PAYSANDU, equipo brasilero recuerda a Peñarol

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Rincon del hincha

El origen del nombre

Paysandu, cidade do Uruguai, foi palco, dia 2 de janeiro de 1865, do episódio histórico denominado "A TOMADA DE PAYSANDU", do qual, participaram, tropas e esquadras brasileiras comandadas, respectivamente, pelo General Mena Barreto e pelo Almirante Tamandaré. Esse episódio não tem qualquer ligação com a guerra do Paraguai, mas sim com as sangrentas lutas que, no Uruguai, envolviam sempre os partidos políticos "Blanco" e "Colorado". Os nomes, da cidade e do clube, se escrevem como está no mapa: PAYSANDU.

 

Paysandu y Peñarol ... la historia que los relaciona

 

"Uma listra branca, outra listra azul / Essas são as cores do Papão da Curuzu / O nosso time joga pra valer / Até o Peñarol veio aqui pra padecer."

Quem mora fora de Belém do Pará certamente fica perdido ao tentar explicar porque diabos o mais popular time uruguaio foi parar no hino do Paysandu. Aliás, até para quem nasceu na mesma cidade que Jesus este é um fato distante. No tempo, não no espaço. A façanha que motivou este espirituoso verso aconteceu há 40 anos, época em que não havia Gols do Fantástico, mesas redondas de domingo e muito menos internet. O feito atravessou gerações através do boca a boca ou, no máximo, de jornais amarelados.

Em meados de julho de 1965, o Peñarol fazia uma excursão pelo Brasil. No currículo, os uruguaios traziam dois títulos da Libertadores, um Mundial Interclubes e o bicampeonato nacional. Num retrospecto mais recente, eram imbatíveis: acumulavam 15 partidas internacionais invictas, tendo passado por grandes clubes do futebol brasileiro como o Santos de Pelé. Em campo, eles tinham algumas das maiores estrelas do futebol sul-americano. Jogadores da seleção uruguaia que viriam a disputar as Copas de 66 e 70, como Mazurkiewicz, Pedro Rocha, Caetano, Forlan, Abbadie... Além do peruano Joya e do equatoriano Spencer, que até hoje é o maior goleador da história da Libertadores.

No dia 16, a delegação aurinegra desembarcou em Belém, onde enfrentaria dali a dois dias o Paysandu. O Papão não ostentava um décimo do poderio do Peñarol, mas tinha uma equipe razoável. Acabara de conquistar o campeonato paraense e tinha alguns jogadores que viriam a fazer história no clube: o volante Beto, o zagueiro Abel, os laterais Oliveira e Carlinhos, o meia Quarentinha e os atacantes Vila e Édson Piola. O destaque era o veterano goleiro Castilho, ex-Fluminense e Seleção Brasileira. Mesmo assim, era uma missão ardilosa para os nortistas. “Vi uma partidas do Peñarol alguns dias antes deles virem a Belém e tinha certeza de que eles conseguiriam uma vitória fácil por aqui”, diz hoje o cronista esportivo Ivo Amaral, hoje na Rádio Liberal AM. “Eu achava que era uma aventura do Paysandu bancar a vinda do Peñarol. Pelo que eles vinham jogando mundo afora, não tínhamos time para ganhar deles”, desabafa o então diretor de futebol do Papão, Abílio Couceiro. Detalhe: o clube paraense pagou 40 milhões de cruzeiros para trazer o esquadrão uruguaio ao Pará. Na época, esse valor representava 833 salários mínimos. Multiplicados pelos R$ 300 reais do valor atual, chegaríamos a R$ 250 MIL!!!

A partida foi realizada no dia 18, um domingo ensolarado. Apesar da importância do adversário, as arquibancadas da Curuzu não estavam lotadas. Nenhum dos jornais da época registrou o público total, mas estima-se que no máximo cinco mil espectadores presenciaram o amistoso. Era verão, época em que os moradores de Belém costumam ir para balneários próximos. E outra: segundo relatos de torcedores, muita gente esperava que o Paysandu fosse passar vexame e preferiu nem arriscar a ida ao estádio.

Só que os jogadores não compartilhavam esse sentimento. “Conhecíamos o Peñarol apenas pelas notícias que os jornais e as rádios divulgavam, mas não sabíamos o modo de jogo deles”, diz o ex-lateral Carlinhos. “Nós só os conhecíamos de fama, eles não nos conheciam de nada. Éramos apenas mais uma equipe contra quem eles iam jogar. Foram surpreendidos”, fala o ex-zagueiro Abel, orgulhoso. A tal surpresa tem tudo a ver com o desconhecimento sobre as estrelas do Peñarol. Sem saber detalhes do time uruguaio, ficou mais fácil conter o nervosismo e impor o ritmo de jogo. “Fomos nós que tomamos as iniciativas na partida. Mas fomos cautelosos, porque tínhamos noção de que eles tinham uma grande equipe. E também vimos que o clima estava quente. Então sabíamos que eles não desenvolveriam o futebol que eles estavam acostumados a jogar”, conta o ex-meia Quarentinha.

Não demorou muito tempo para que os uruguaios sentissem o calor e levassem o primeiro gol. Aos 19 minutos do primeiro tempo, o ponta-esquerda Ércio recebeu uma bola de Carlinhos, avançou pela intermediária, driblou Forlan, e do bico da área chutou de três dedos. Mazurkiwewicz, que estava adiantado, nada pôde fazer. O Paysandu abria o placar. Como surpresa pouca era bobagem, o Papão chegou a 2 x 0 ainda na primeira etapa, aos 43 minutos. Numa jogada de contra-ataque que começou ainda na própria grande área, os bicolores avançaram. Já na área adversária, o atacante Pau Preto chamou um defensor uruguaio para a disputa da bola e tocou para o também atacante Milton Dias, que, sozinho, chutou fácil para o fundo das redes.

No final do primeiro tempo, o Peñarol aproveitou para ganhar tempo. “O intervalo costuma demorar 10 minutos. Eles levaram quase meia hora pra voltar. E voltaram encharcados, como se tivessem tomado banho de uniforme”, relata o ex-zagueiro Abel. Esse é o único relato de catimba dos uruguaios. O juiz que apitou a partida, Manuel Francisco de Oliveira, diz que não teve muito trabalho para conduzir o jogo. Na época, não existiam cartões amarelos e vermelhos. Nem precisaria. “Foi muito tranqüilo. As duas equipes se comportaram bem e não usaram da violência em momento algum”, lembra. Detalhe: em 1965, Manuel tinha apenas 18 anos. Apesar da pouca experiência que tinha, não lhe faltou uma fonte de segurança. Um dos bandeirinhas era ninguém menos que seu pai, Elzemann Rabelo. “Ele era minha referência. Me tornei árbitro por causa dele”, conta.

O calor equatorial acabou com o preparo físico dos “galácticos” da época. Tanto é que na segunda etapa, os donos da casa apenas confirmaram a vantagem. Aos 23 minutos, o ponta direita Vila recebeu uma bola na intermediária e lançou na grande área para Pau Preto, que com categoria tirou do goleiro e selou a vitória paraense. A felicidade foi redobrada para um personagem em especial. O técnico bicolor, Juan Antonio Álvarez, era uruguaio. E durante muito tempo, jogou no Nacional de Montevidéu. No calor da emoção, Juan declarou a um jornal paraense: “Este é o dia mais feliz da minha vida. O Peñarol sempre foi meu maior rival!”.

Os 3 x 0 sobre uma equipe tão poderosa mereceriam carreata pela cidade, festa na Doca de Souza Franco, comemoração até o amanhecer. Mas os heróis da vitória tinham compromisso com o relógio e com o serviço no dia seguinte. “Nossa equipe era formada basicamente por estudantes e funcionários públicos”, lembra Quarentinha, que conciliava o futebol com o emprego de perito datiloscópico na Polícia Civil. “A gente jogava no domingo mas tinha que dormir cedo porque na segunda-feira de manhã o patrão não ia dispensar”, conta o engenheiro aposentado Carlinhos.

Os jornais também não dispensaram –de elogios– os jogadores. O Liberal estampou em seu caderno de esportes: “Triunfo do Papão é Vitória do Brasil”. A Folha Vespertina escreveu “Paysandu Vinga Torcida Brasileira”, numa referência às vitórias do Peñarol sobre clubes brasileiros e à perda da Copa de 50, que ainda doía 15 anos depois. Mas a repercussão mais emblemática foi uma crônica de Nelson Rodrigues publicada em O Globo:

Seja como for, diante de nós está um fato irredutível, inarredável: o Peñarol, que costuma ser a seleção uruguaia com poucos enxertos (...) entrou por um deslumbrante cano paraense. Com um mínimo de senso comum, verificamos o óbvio ensurdecedor: foi uma lavagem. Pode-se sofismar com 1 x 0, 2 x 1, 3 x 2. Mas uma goleada está acima de nossa ironia frívola. Os paraenses encheram os antigos reis do futebol.

A primeira explicação é o homem daquelas bandas. Lá naqueles lados, os homens têm um potencial imenso de vontade, de caráter, de paixão.

Não só o Flamengo tem camisa. O Paysandu também. Sendo preciso, sua camisa deixa de ser um trapo qualquer para erguer-se como um estandarte em chama. (...) os vizinhos não acreditaram nem no Pará nem no seu futebol. Contavam com um passeio. E caíram de cara no chão. Agora, batendo essas notas, eu posso imaginar o brio, a gana, a sede, a chama com que jogaram os paraenses. O Peñarol saiu de lá com as orelhas a meio pau. Três a zero! Um banho completo!

O contrato da excursão do Peñarol em Belém previa um segundo jogo. Deveria ser contra o Remo, mas os azulinos disputavam a Taça Brasil e tinham vários jogadores contundidos. Acaram desistindo por conta disso. A saída para cumprir o acordo com os uruguaios foi montar um combinado de jogadores do Paysandu e da Tuna, que enfrentou os visitantes três dias depois, uma quarta-feira. O jogo teve portões abertos para a torcida, já que governo do Pará e prefeitura de Belém cobriram os prejuízos ocasionados pela falta de público. O ingresso grátis e a euforia pela vitória no domingo levaram o estádio à superlotação. Cerca de 25 mil pessoas foram à Curuzu no dia 21 de julho. Parte do muro e do alambrado acabaram caindo antes da bola rolar.

O jogo terminou 1 x 1, com os visitantes marcando o gol de empate nos acréscimos do segundo tempo. Num gol meio controverso, diga-se de passagem. Numa bola cruzada na área, o arqueiro Castilho saiu e, no ar, recebeu a trombada de dois jogadores uruguaios. Bola, goleiro e tudo o mais foram parar no fundo das redes. O Peñarol iria embora de Belém sem revanche...

Mas a bagagem dos aurinegros teve um atacante brasileiro. Assim como o Boca Juniors levou Iarley em 2003, o Peñarol também contratou um carrasco de si mesmo. Milton Dias, autor do segundo gol do Papão, foi parar em Montevidéu. O interesse dos uruguaios chegou através de um telegrama. A diretoria do Paysandu não hesitou em atender ao pedido de negociação. “Levei o Milton Dias na loja masculina mais chique de Belém, embonequei ele, dei um brilho no dente dele e o levei para o Rio de Janeiro, onde o empresário uruguaio estava esperando”, relembra o então diretor de futebol do Papão, Abílio Couceiro. Milton não durou muito tempo no Peñarol. Poucos meses depois, foi parar no Fênix, da segunda divisão uruguaia. “O Milton Dias era um jogador mediano e foi um craque de um jogo só. Teve uma atuação espetacular diante do Peñarol, mas nunca conseguiu repeti-la nem lá no Uruguai, nem no Paysandu quando voltou”, conta Ivo Amaral.

Mais eterna do que a carreira de Milton Dias é a lembrança da vitória que a marchinha do “uma listra branca, outra listra azul” provoca. Ela foi composta ainda no estádio pelo fuzileiro naval aposentado Francisco Pires Cavalcante, hoje com 81 anos. Paraibano, ele chegou a Belém em 1946 e escolheu torcer pelo Paysandu porque a camisa bicolor tem as mesmas cores do time em que ele jogava na terra natal: o IFOCS –Instituto Federal de Obras Contra a Seca. Nas arquibancadas da Curuzu, seu Pires se empolgava à medida em que o Peñarol era ensacado. “Depois do segundo gol, eu já não me continha de felicidade. E aquela melodia veio na minha cabeça que nem orvalho caindo numa flor: ‘uma listra branca, outra listra azul...’”.

A composição terminou nos estúdios da Rádio Marajoara, onde seu Pires –que era músico na Marinha, mas não tocava nada há pelo menos duas décadas– encontrou o radialista Clodomir Colino, que tocou piano e escreveu a música. Se os direitos autorais fossem pagos de forma justa, Pires Cavalcante e os parentes de Clodomir (que morreu há cerca de dez anos) seriam multimilionários. Mas o único autor vivo prefere se contentar com outra espécie de pagamento. “Eu adoro ver a torcida inteira cantando a minha marchinha no Mangueirão. Fico todo arrepiado”, confessa o simpático senhor.

A marchinha também lembra uma outra façanha do Paysandu. A goleada de 7 x 0 sobre o Remo, em 1945, é citada de forma sutil: “Pintou o sete numa tela azul / um feito sem defeito do Papão da Curuzu”. Perguntei a seu Pires se nos últimos quarenta anos houve alguma outra vitória que lhe tivesse motivado a inspiração tanto quanto o triunfo sobre o Peñarol. “O título da Copa dos Campeões”, ele responde. “Se não me engano, houve ali um 7 x 3 (4 x 3 no tempo normal contra o Cruzeiro e 3 x 0 nos pênaltis). Então pintou-se o sete em outra tela azul. Foi outro feito sem defeito do Papão da Curuzu. É por isso que eu sou Paysandu”, completa.

 

Leonardo Aquino

 

Obs.: reportagem originalmente publicada no blog De Primeira.

www.gardenal.org/balipodo

25/7/2005

 


Por información o contactos: capgirasol@hotmail.com

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